Sunday, December 24, 2006


I
Espírito dos natais passados
Poema para o Zé Soldado
De Diniz Diogo:

Não cuides que me esqueço.

A memória,
-está na aurícula direita
do coração.
Areia áurea, erecta,
que palpita de paixão
e a boca do poeta
deixou escrita
nas linhas da palma da mão.

Não: eu não me esqueço.

E se quiseres eu lembro:

Corria o mês de Dezembro,
o mês do Mestre de Avis,
e tu, sereno e feliz,
surgiste num ecran de vidro
a dizeres que era de ferro
o nosso patriotismo.

Que é feito de ti, Zé Soldado,
Soldado de Portugal?

Era noite. E o Menino Jesus
faltava lá no Minho, esse Natal.
Parecia tão triste, a tua mãe.
E o teu pai, que nem bebia vinho?
também triste, tão sozinho,nessa noite.
E o Menino Jesus
faltava lá no Minho esse Natal.

E tu surgiste, no ecran de luz,
sorridente, alegre, apaixonado,
a dizer:
- que o pecado
era não lutar por Portugal.

Mas que é feito de ti, Zé Soldado?
Que é feito de ti, afinal?

Falaste com saudade e com orgulho.
E, no carinho dos teus,
não era essa verdade um sonho:
era um poema em rascunho
escrito pelo punho de Deus.

Eram dez horas. E depois da ceia
suspensa da tua voz, da tua imagem,
lá estava toda a aldeiaa dizer à boca-cheia:
este sim, tem coragem.

Quase que já não se ouviram
as palavras que disseste no final

(Eu não me esqueço...)

Disseste:
Adeus. Até ao meu regresso.

À tua espera
está suspenso Portugal.

Friday, December 15, 2006


Finais felizes Margaret Atwood (Caro/a participante, escolha A ou B)

A O João e a Maria apaixonam-se e casam-se. Ambos têm empregos compensadores e bem remunerados, os quais são estimulantes e um constante desafio. Compram uma encantadora casinha. Os bens imobiliários sobem em flecha. Finalmente, quando podem pagar ajuda constante, têm duas crianças, às quais são totalmente devotados. As crianças dão para bem. O João e a Maria têm uma vida sexual estimulante e diversificada. Passam férias divertidas juntos. Reformam-se. Ambos têm hobbies estimulantes, que os satisfazem. Por fim, acabam por morrer. Este é o fim da história.


B
A Maria apaixona-se pelo João, mas o João não se apaixona pela Maria. Ele simplesmente usa o seu corpo para sentir um prazer egoísta e uma gratificação tépida do ego. Ele vai ao apartamento dela duas vezes por semana, ela faz o jantar, é de notar que ele nem acha que ela vale o preço de um jantar fora, e depois de terminar de comer, ele fode-a e depois adormece, enquanto ela lava a loiça para que ele não pense que ela não é asseada, deixando assim, a loiça por limpar, e ela põe baton para ter bom aspecto quando ele acordar, mas ele acorda e não nota, calça as meias e os boxers e as calças e a camisa e a gravata e os sapatos, a ordem contrária pela qual tirou.

(…)
(cenas dos próximos capítulos)

Saturday, December 09, 2006


Um rapaz começa a ter uma vida difícil muito cedo. Sobretudo quando tudo dura pouco tempo. Sem a invisível protecção da mãe, dos amigalhaços e do demónio ninguém sabe o que se pode e pode-se tudo. Por isso, com um corpo aflito, um rapaz não procura sentimentos recíprocos. E vai a muitos sítios onde não devia, mas onde sabe que vai encontrar o que procura, porque os vícios colam-se às pessoas quaisquer que elas sejam, más ou boas. E depois é tarde e um rapaz é um ser volátil que se queima.

Thursday, December 07, 2006


Uma rapariga começa a ter uma vida difícil muito cedo. Sobretudo quando tudo dura pouco tempo. Sem uma invisível protecção do pai, dos anjos ou de deus ninguém sabe o que se pode, não se pode nada. Por isso, com a alma aflita uma rapariga procura sentimentos recíprocos. Em muitos sítios onde não devia, em que já sabe que não vai encontrar nada de jeito, porque os vícios colam-se às pessoas quaisquer que elas sejam, más ou boas. E depois, é tarde e uma rapariga é um ser volátil que se queima;

Friday, November 24, 2006


XVII
Who will believe my verse in time to come,
If it were fill'd with your most high deserts?
Though yet heaven knows it is but as a tomb
Which hides your life, and shows not half your parts.
If I could write the beauty of your eyes,
And in fresh numbers number all your graces,
The age to come would say 'This poet lies;
Such heavenly touches ne'er touch'd earthly faces.
'So should my papers, yellow'd with their age,
Be scorn'd, like old men of less truth than tongue,
And your true rights be term'd a poet's rage
And stretched metre of an antique song:
But were some child of yours alive that time,
You should live twice, in it, and in my rhyme.


Quem crerá em versos em tempos vindouros,
Se estes estão repletos de teus tesouros?
O céu sabe, são apenas sepultura
Onde escondem tua graça, tua candura.
Se pudesse com palavras descrever,
Em verso só, a beleza do teu ser,
Diriam assim “este poeta mente”
Graças celestiais não são certamente.
E meus papéis, pela idade tocados
Seriam velhos sem razão, troçados,
E teus dons serão a raiva do poeta
De versos antigos, de rimas sem métrica:
E se por ventura tiveres uma filha

Vives duas vezes, nela e na rima.

Thursday, November 23, 2006


Als das Kind Kind war,
wußte es nicht, daß es Kind war,
alles war ihm beseelt,
und alle Seelen waren eins.


Als das Kind Kind war,
hatte es von nichts eine Meinung,
hatte keine Gewohnheit,
saß oft im Schneidersitz,
lief aus dem Stand,
hatte einen Wirbel im Haar
und machte kein Gesicht beim fotografieren.

Quando a criança era criança,
Não sabia que era uma criança,
Tudo lhe era sagrado
E todas as almas eram uma.

Quando a criança era criança,
Não tinha opinião sobre nada,
Não tinha vícios,
Sentava-se muitas vezes de pernas cruzadas,
Corria de um lado para o outro,
Tinha um remoinho no cabelo
E não fazia poses para as fotografias!

Tuesday, November 21, 2006



Lied Vom Kindsein


Als das Kind Kind war,
war es die Zeit der folgenden Fragen:
Warum bin ich ich und warum nicht du?
Warum bin ich hier und warum nicht dort?
Wann begann die Zeit und wo endet der Raum?
Ist das Leben unter der Sonne nicht bloß ein Traum?
Ist was ich sehe und höre und rieche
nicht bloß der Schein einer Welt vor der Welt?
Gibt es tatsächlich das Böse und Leute,
die wirklich die Bösen sind?
Wie kann es sein, daß ich, der ich bin,
bevor ich wurde, nicht war,
und daß einmal ich, der ich bin,
nicht mehr der ich bin, sein werde?



Quando a criança era criança,
Chegou o tempo das seguintes perguntas:
Porque sou eu e não tu?
Porque estou aqui e não ali?
Quando começou o tempo e onde termina o espaço?
A vida debaixo do sol não é mais que um sonho?
Isto que oiço, que vejo e que cheiro
Não é uma mera aparência de um mundo antes do mundo?
O mal existe mesmo, e pessoas
Que são verdadeiramente más?
Como pode ser, que eu, que estou aqui,
Antes de ter sido, não era
E uma vez que eu sou
Não mais o poderei ser?

Sunday, November 19, 2006


Does horror have a face? How can you deny it?

Apascenta as minhas ovelhas!

Thursday, November 16, 2006


I, too, sing Portugal

I am the educated sister,
They send me to eat in the dining room,
When company comes,
And I do not laugh,
And do not eat well,
And I grow weak.

Today,
The sisters are in the kitchen
Nobody dares
Say to me,
“Eat in the kitchen,”
Now.

Besides,
They see how arrogant I am
And I´ll be scorned—

I, too, am Portugal.


Eu sou a irmã instruída.
Mandam-me comer na sala
Quando as visitas chegam,
E eu não rio,
E não como bem,
E fico fraca.

Hoje,
as irmãs estão na cozinha,
Quando as visitas chegam.
Ninguém ousa dizer-me
“Vai comer para a cozinha,”
Agora.

Além disso,
Vêem como sou arrogante
E farão pouco de mim –-

Também eu sou Portugal.

Wednesday, November 15, 2006


I, too, sing America.

I am the darker brother.
They send me to eat in the kitchen
When company comes,
But I laugh,
And eat well,
And grow strong.

Tomorrow,
I'll be at the table
When company comes.
Nobody'll dare
Say to me,
"Eat in the kitchen,"
Then.

Besides,
They'll see how beautiful I am
And be ashamed--

I, too, am America.



Também eu canto a América.

Eu sou o irmão mais escuro.
Mandam-me comer na cozinha
Quando as visitas chegam,
Mas eu rio,
E como bem
E cresço forte.

Amanhã,
Sentar-me-ei à mesa,
Quando as visitas chegarem.
Ninguém ousará dizer-me
“Vai comer para a cozinha,”
Então.

Além disso,
Verão como sou bonito
E ficarão envergonhados –

Também eu sou a América!

Tuesday, November 14, 2006



Loreley
Zu Bacharach am Rheine
Wohnt’ eine Zauberin,
Sie war so schön und feine
Und riß viel Herzen hin.



Em Bacharach, no Reno, sentada
Morava uma feiticeira
Que destruía corações
De tão bela e delicada!

Sunday, November 12, 2006


WOYZECK allein: Das Messer? Wo ist das Messer? Ich hab' es da gelassen. Es verrät mich ! Näher, noch näher ! Was is das für ein Platz? Was hör' ich? Es rührt sich was. Still. - Da in der Nähe. Marie? Ha, Marie ! Still. Alles still ! Was bist du so bleich, Marie? Was hast du eine rote Schnur um den Hals? Bei wem hast du das Halsband verdient mit deinen Sünden?

Friday, November 10, 2006


Worauf passt du denn auf?
Das kann ich nicht sagen. Er hielt die Hände fest um den Stock. (…)


Nachts schlafen die Ratten doch. Nachts kannst du ruhig nach Hause gehen. Nachts schlafen sie immer. Wenn es dunkel wird, schon.

Sunday, November 05, 2006


That though the radiance which was once so bright be now forever taken from my sight.
Though nothing can bring back the hour of splendor in the grass, glory in the flower.
We will grieve not, rather find strength in what remains behind

Friday, November 03, 2006


"After the first glass you see things as you wish they were.
After the second, you see things as they are not.
Finally you see things as they really are - and that is the most horrible thing in the world."

Tuesday, October 31, 2006


The disease of the lady Madeline had long baffled the skill of her physicians. A settled apathy, a gradual wasting away of the person, and frequent although transient affections of a partially cataleptical character, were the unusual diagnosis.

Saturday, October 28, 2006


"Die meisten Menschen legen ihre Kindheit ab wie einen alten Hut.
Sie vergessen sie wie eine Telefonnummer, die nicht mehr gilt. (…)
Früher waren sie Kinder, dann wurden sie Erwachsene, aber was sind sie nun?
Nur wer erwachsen wird und ein Kind bleibt, ist ein Mensch."

A tua dor é transparente?

“Heimat ist Nichtort, Heimat ist Utopie.”
(Pedimos desculpa aos demais intervenientes pelo facto da Maria Magdalene estar com um cigarro na mão, mas ela já está morta de qualquer das maneiras.)